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Os EUA usam as tarifas para sugar a energia vital do mundo — por Zhao Qian

Artigo de jornalista chinês explicita as contradições da postura dos EUA na guerra comercial

by Fabiana Ceyhan

Os EUA mudaram de tom novamente.

Na última reunião na Casa Branca, o presidente Donald Trump declarou que, se nenhum acordo fosse alcançado com os países afetados nos próximos 90 dias, ele poderia reinstaurar tarifas elevadas. Em relação à China, expressou otimismo sobre um acordo tarifário.

Um dia antes, Trump havia revertido abruptamente sua posição sobre a guerra comercial mundial, anunciando uma suspensão de 90 dias das tarifas sobre vários países, mantendo apenas uma suposta “tarifa base” de 10%.

Esse vai e vem deixou até os agentes alfandegários dos EUA perplexos.

Segundo a mídia norte-americana, Trump explicou os próximos passos sobre as isenções tarifárias da seguinte forma:
“Você quase não consegue colocar o lápis no papel. É mais uma questão de instinto do que qualquer outra coisa.”

Sim, ele disse “instinto”! Uma decisão que impacta o comércio global, envolvendo trilhões de dólares, está sendo tomada com base em “instinto”. Por outro lado, quando tarifas são impostas até mesmo sobre pinguins e o método de cálculo confunde até economistas dos EUA, o que resta além do “instinto”?

Atualmente, Trump se deleita ao ver líderes mundiais formando fila para negociar com ele. Dias atrás, autoridades norte-americanas afirmaram que mais de 75 países haviam feito contato.

No entanto, após anunciar a “pausa” nas tarifas, Kevin Hassett, diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, atualizou a lista real de interessados:

Cerca de 15 países apresentaram propostas “explícitas” aos EUA, e vários líderes devem visitar a Casa Branca nas próximas semanas.

Uau – de 75 para 15.

Independente do número, esse é o cenário desejado por Trump: desmantelar o sistema multilateral de comércio mundial e forçar cada país a negociar individualmente com os EUA.

Agora, analisemos as preocupações globais sob duas perspectivas.

A Linguagem do Bullying

“Lamber meu traseiro” – Trump usou essa frase em um jantar para zombar abertamente de países que buscam negociações tarifárias com os EUA.

Normalmente, tal linguagem seria considerada grosseira, mas Trump a usou publicamente – em um contexto diplomático. Esses países vieram negociar apenas para serem insultados como “sem coluna vertebral e sem princípios”. Essa é a postura dos EUA: arrogância sem remorso.

“Deixar de existir como um país viável” – Essa foi a avaliação de Trump sobre o Canadá durante as negociações tarifárias. Combinada com sua sugestão de que o país deveria se tornar o 51º estado norte-americano, trata-se de pura humilhação e ameaça.

“Rebaixaram-se tanto” – Assim os EUA descreveram as retaliações de seus vizinhos. Os EUA atacam primeiro e, quando outros revidam, são rotulados de “desprezíveis e sem classe”.

“Fracos e ineficazes” — Esse é um ataque pessoal típico de Trump. Primeiro, ele intimida verbalmente; se você cede, ele avança para a opressão econômica, tornando a resistência ainda mais difícil.

Essa linguagem seria impensável no discurso diplomático do passado. Hoje, porém, o mundo já se acostumou aos insultos.

Se ainda não está claro, considere as palavras de Stephen Miran, presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca (CEA) e arquiteto das tarifas “recíprocas” dos EUA.

Em um discurso recente, Miran exigiu descaradamente que países “simplesmente emitam cheques” para o Tesouro dos EUA.

Sem disfarces: é extorsão aberta, forçando o mundo a se render às exigências norte-americanas.

A Realidade das Ações dos EUA

Vejamos exemplos reais de “negociações”.

Primeiro, o Japão: ontem, a agência Kyodo informou que o ministro da Revitalização Econômica do Japão, Toshimitsu Motegi, pode visitar os EUA na próxima semana para discutir tarifas.

Em fevereiro, Trump anunciou tarifas globais sobre aço e alumínio. O Japão, grande fornecedor de aço aos EUA, foi ameaçado. O que fez? Tentou negociar.

No mês passado, o ministro da Economia do Japão foi a Washington, destacando o quanto empresas japonesas investiram nos EUA, quantos empregos criaram – até oferecendo um projeto de US$ 44 bilhões em gás natural no Alasca como moeda de troca. Mas as concessões japonesas só aumentaram a pressão norte-americana.

Em 2 de abril, Trump anunciou tarifas sobre carros importados – um golpe direto na indústria automotiva japonesa, cujo maior mercado de exportação são os EUA. Em 2023, os carros representaram quase 30% das exportações japonesas para os EUA.

Fraqueza atrai agressão. Em 1985, o Japão cedeu, assinando o Acordo de Plaza, que forçou a valorização do iene e reduziu a competitividade de suas exportações. Posteriormente, os EUA pressionaram o Japão a assinar acordos como o de Semicondutores, marcando o início das “três décadas perdidas” do país.

No início de fevereiro, logo após assumir, Trump impôs tarifas ao Canadá e México. Inicialmente, ambos tentaram negociar. O presidente mexicano chegou a se reunir com Trump, que classificou as conversas como “muito amistosas”. No final, Trump elevou as tarifas mesmo assim.

O então primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, discursou exortando o país a confrontar o parceiro comercial maior. Logo depois, o Canadá revidou: Ontário impôs uma sobretaxa de 25% na exportação de eletricidade aos EUA, afetando diretamente o abastecimento em Michigan, Minnesota e Nova York.

Trump ameaçou dobrar as tarifas sobre o aço canadense, mas as retaliações forçaram-no a recuar no mesmo dia.

Depois, as palavras duras do novo primeiro-ministro canadense, Mark Carney: a economia global é fundamentalmente diferente hoje. O sistema de comércio mundial ancorado nos EUA, no qual o Canadá confiou desde o pós-guerra – imperfeito, mas responsável por décadas de prosperidade – acabou. Nossa relação de integração progressiva com os EUA terminou.”

Aos olhos dos EUA, o mundo é dividido em hierarquias. Quanto mais você se curva, menos respeito recebe. Quanto mais cede, mais os EUA sugam seu sangue.

Por fim, a China. Atualmente, os EUA desesperam-se para que a China atenda ao telefone.

Em suas declarações mais recentes, Trump expressou otimismo sobre um acordo tarifário sino-americano.

Enquanto impõe tarifas à China, os EUA também estendem um ramo de oliveira – sinal de que a China, o “osso mais duro”, superou expectativas. Também prova que as contramedidas chinesas são eficazes e precisas.

Estamos em uma fase de “braço de ferro” – um teste de resistência e determinação.

O motivo do recuo dos EUA é, em grande parte, o dano que as tarifas causam à própria economia. Economistas do JPMorgan preveem recessão nos EUA ainda este ano, e 92% dos especialistas em uma pesquisa da Bloomberg afirmam que tarifas aumentam riscos de recessão.

Até ex-autoridades como Janet Yellen chamaram as tarifas de “o pior tiro no pé”.

No cerne, a guerra comercial dos EUA é uma forma mais profunda de exploração contra nações em desenvolvimento. Cada vez mais países temem ser coagidos a termos desfavoráveis – mas sentem-se impotentes para resistir.

Alguns argumentam que negociações são inevitáveis. A posição da China é clara:

Para negociar? A porta está aberta.

Para lutar? Levaremos até o fim.

Negociações reais não podem ser coagidas.

O povo chinês está unido, confiando firmemente nas decisões estratégicas do governo.

Se os EUA realmente desejam negociar, precisam primeiro criar uma atmosfera de igualdade e respeito mútuo – uma que a China possa aceitar.

Para a China, independente das mudanças no cenário internacional, nossa maior força está em manter o foco em nosso próprio caminho.

Este artigo foi escrito por Zhao Qian, jornalista chinês baseado em Nairóbi.

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